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FAVALI

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Olá amigos,       No último desafio do Entre Contos escrevemos sobre uma imagem: esta foto anexa de autoria  do fotógrafo   Alex Timmermans . Meu miniconto político-animal, "Favali", cria uma paródia   e atualiza a "Revolução dos Bichos" de George Orwell. "Dr. Galo" era o meu pseudônimo que respondia em segredo aos comentários que se seguem ao conto: https://entrecontos.com/2017/05/20/favali-dr-galo/ ou na minha coluna:    http://cronicascariocas.com/colunas/cronicas/favali/ Espero que gostem ou desgostem, mas opinem. Estamos em um país carente de opiniões educadas e sensatas seguidas de ações e análise crítica.   Muito obrigada por sua leitura. Um abraço.  (foto de Alex Timmermans) O Senhor Verme orgulhava-se de suas grandes fazendas e indústrias. Os javalis, além de hábeis aradores da terra e grandes produtores de esterco, eram operários resistentes, rápidos e obstinados em suas funções. Produziam toneladas de adubo e

Foi nada, seu juiz!

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-- Mô? Viu que é bandeirinha mulher? A gente não tem sorte com mulher na arbitragem. Sei que você pode pensar que é machismo, não é não, é estatística. Silêncio no tribunal! Começou.  Até que enfim um técnico ousado partindo pro ataque. Vamutrucidááá!  Chuviscando no gramado, esse tapete esburacado vai virar um sabão. Tomara que aqui não chova forte, se não a gente perde o sinal da tevê. O Pitomba pegou a bola. Corre! Passa! Ladrão! Ladrão! Pronto perdeu. Correr atrás do ônibus pra tentar a peneira você sabia, agora que tá sentado na grana fica de frescuragem.  Recupera, isso! Mô, tá vendo o babaca se achando mágico? Não dribla, cara, me ouve que tu não é Garrincha, passa essa bola. Assim não que estoura a virilha e desfalca o time. Não, não, não, por aí não. Ai, já que tá aí entra logo na área que não é areia movediça. Rápido, porca miséria! Não vai dar.  Vai, se joga na área que tu não tem perna pra isso. Isso! Cai, estrebucha, treme, chora, peste, que o juiz tá olhando! Penalti,

A Aposentada Secreta

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Voltando com minha coluna semanal no Crônicas Cariocas: http://cronicascariocas.com/ cronicas/a-aposentada-secreta/ Dona Lourdes aprendeu a segurar o dedal e enfiar a linha na agulha antes mesmo de  ler e escrever no pré-escolar. Ajudava a mãe na costura e herdou o ofício com gosto. Sabia que os panos seriam seus companheiros para o resto da vida. Sempre foi autônoma e recolhia a contribuição para o INSS regularmente há 32 anos, sem nunca ter tirado uma licença. Não tinha pressa de se aposentar, mas assistindo na TV o Presidente da República anunciando o pacote de maldades da previdência achou por bem dar entrada nos papéis, antes que a direção do vento mudasse. Não comentou com ninguém, isso é coisa pessoal, não havia de sair por aí batendo nos peitos “Me aposentei! Tô rica!”. Deus a livre. Nunca foi de falar dos outros, quanto mais da própria vida. A conversa com a máquina de costura lhe bastava. No dia em que entrou o primeiro crédito na conta, Lourdinha respirou aliviada

Todo o meu pedaço

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O amor é inteiro ou apenas um pedaço? Meu conto "Todo o meu pedaço" ficou orgulhosamente em 4º lugar no desafio FOLCLORE BRASILEIRO do site Entre Contos. Leia o meu e os outros contos. Seu dia ficará mais belo e completo: https://entrecontos.com/2017/03/10/todo-o-meu-pedaco-calango/comment-page-1/#comment-60228 Todo o meu pedaço ( Catarina Cunha) Ainda com o torpor da vigilância noturna, Etelvino lavou o sorriso pensando no corpo morno de Melissa entre os lençóis sonolentos. Tirou o uniforme e devolveu a arma da firma, nunca gostou de arma de fogo, carregava por obrigação. Mas Benedita, a companheira das solitárias rondas noturnas, se mantinha junto à coxa esquerda. A peixeira descansava na curtida bainha de couro desde os tempos de menino nos canaviais. Pegou gosto pelo ornamento que lhe equilibrava o gingado. A madrugada recifense, de escuridão escaldante, jogou o homem dentro de um ônibus. Não faria o longo percurso a pé, como de costume, guardaria um pouco de e

Bela

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Bela (Catarina Cunha) Hoje é meu aniversário. Mamãe me enfeitou de vestido branco com moranguinhos desenhados. O laço de fita nos cabelos me deixou bem mocinha com os sapatos emprestados da Cinderela.  Meu príncipe encantado me procura neste salão enfeitado de flores recebendo convidados de mansinho.   Será que vai ter refresco de pêssego?  Gosto mais de presente surpresa,  como a cama branca da Bela Adormecida. Mas que gente sem graça, vamos animar esta festa dançando meu vestido.  Mamãe, tira meus sapatos para não sujar o lençol. Não chora, prometo nunca mais deitar de sapato. Não fecha a cama, papai, fica escuro. Papai?

CAFÉ

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Café Antes de pensar o dia perguntei-me se haveria outra noite suficiente para alimentar todas as bocas estelares. A mudez solar sepultou todos os meus pensamentos óbvios na cova rasa da imensidão galáctica. Vácuo no corredor. Meteórico. Foda. Odeio o dia começar assim da mesma forma que terminou. A cafeteira me inferniza com questionamentos domésticos recheados de rotina maternal. Sofro as lamúrias depressivas das marés, como se não bastasse o que tenho que assistir inerte. Suporto o beijo do aroma do que odeio amar. Fé e mar. Café. Saudade do que nunca se é Foda. Odeio o dia começar assim da mesma forma. O movimento de rotação me embrulha o estômago e sucumbo ao tédio de goles homeopáticos de translação. Não há latitude suficiente para aplacar a longitude de minha desesperança com tantas certezas absolutas. Obtusas, contra ou pró. Sempre profundo. Mundo foda. Odeio o dia começar assim. Dou corda na engrenagem alimentando os ventos antes que a v

Hibisco para todos

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No último desafio do Entre Contos, com o tema "Retrô cemitérios", fiquei em 7º lugar com a singela visão de um menino muito engajado em suas teorias sobre vida e morte. Assim como meu filho  Ian C Angeli  na mais tenra idade, Jonas é capaz de emendar um raciocínio no outro sem perder a ternura jamais.  Todos os contos possuem comentários que foram feitos sem ninguém saber a autoria, usamos pseudônimos até o resultado; o que dá lastro ao desafio.  Não deixem de conferir os contos dos outros autores, principalmente o campeão "Mea Culpa" de  Daniel Reis  e "Belinha" de Anderson Henrique. Com vocês,  "Hibisco para todos": Hibisco para todos Há anos adquiri o hábito de passear nas alamedas do cemitério depois do almoço, lendo as lápides, imaginando a vida daquelas pessoas e sempre terminando meu passeio no túmulo 1672, quadra 9, lar definitivo de minha esposa, que pediu que eu  plantasse um pé de hibisco amarelo, hoje uma frondosa árvore flor